O último auto de fé em Portugal
Durante uma visita de estudo a Monsanto senti-me muito impressionada com a atmosfera geral da
cidade e particularmente numa estreita rua diante daquela casa redonda com uma minúscula porta.
Deixei o grupo de professores meus colegas se afastar, para tentar compreender, ser só sentidos.
E foi silêncio e o tempo como que parado e uma estranha sensação de perigo latente.
Bati uma foto apressada e saí quase correndo, fugindo àquele lugar. Os meus amigos perguntaram se
me sentia mal ao me verem tão chegar toda alterada.
Dias depois, já em casa, lembrei-me duma antiga notícia de jornal, em que era referido o último
"Auto de Fé" em Portugal (1931). Em breves palavras lembravam como naquela vila aparentemente
pacífica o povo queimara uma jovem mulher acusada de bruxaria.
E aí eu revi a serra agreste, as casas de granito, fechadas como fechados e agrestes eram os
rostos das mulheres de negro que encontramos.
Não havia crianças nem risos, apenas o vento corria solto pela cidade trazendo os cheiros bravios
da serra.
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