Microcontos 11 a 20



O aroma do café obrigou-a a saltar da cama e correr à cozinha. Sobre a mesa duas baratas fornicavam plàcidamente.

• • •

Empurrando a custo o carrinho cheio de compras, Dona Eulália posou seus esplêndidos melões sobre a alface francesa e suspirou de alívio.

• • •

A senhora distinta dobrou-se graciosa apanhando o leque. Um traque sonoro fê-la perder a pose...

• • •

O vento fez a velha cair nos braços dum jovem modelo que se olhava na vitrine. Na autópsia acharam a dentadura dela encravada na garganta dele.

• • •

O pardal deu três saltos e apanhou a lagarta. O gato abriu a boca e cuspiu o pássaro que sabia a couves.

• • •

O céu foi passando de azul a vermelho e de cinza a negro. Então surgiu brilhando o sorriso do gato de Alice.

• • •

Último dia de aulas, silêncio, paz. Os pássaros sentiram que os gatos não eram assim tão terríveis, não sabiam atirar pedras nem usar fisgas.

• • •

Levaram todo o ano a trabalhar, a juntar dinheiro para umas férias na praia. Por fim chegados, sentaram-se num banco da estrada de costas para o mar

• • •

O céu estava tão azul e havia tanto verde à volta que aquela velha árvore de braços negros erguidos tinha a força de um grito, como se fora um aviso.

• • •

Já não há amoras bordejando o caminho nem o ranger dos carros de bois, mas nos muros de pedra-solta vestidos de musgo há histórias antigas a murmurar.

• • •

Um sussurro, um bater de asas e sobre o muro surge altivo e belo um pavão. Azul profundo único, brilhante - Oh presença mitológica dos mil olhos...



MICROCONTOS
Voltar