Haicais sensuais


Teu corpo deitado
acorda desejos
não confessados

Meus dedos-olhos
desvendam sem pressa
doces mistérios

Palmo a palmo
dedo a dedo
inicio teu percurso

Cai a noite
e tuas tranças desfeitas
num leito vazio

Teus cabelos soltos
pedem libertos
carícias de vento

Olhar esquivo
corpo ondulante
sonho vivo

Por desafio
vestiu-se de gueixa
– amor não sentiu

Com mãos de hera
enlaço teu corpo
oferto em espera

Minha cabeça
em seu peito, seus dedos
em meus cabelos

Olhando nos olhos
que a água reflete
Narciso se esquece

Debruçado no lago
Narciso surpreso
se vê amado

O vento leste
brinca leve
e lento a despe

Por toda a casa
tua ausência
lenta se arrasta

Um som, um cheiro
e sem te ver te vejo
– és tu inteiro

Longe, noite escura
uma viola geme
amor murmura

Como se fada foras
passaste leve
entre as flores

Lento passo os dedos
em teus cabelos longos
cor de mel

Areia branca da praia
deixa a morena
mais quente

Nas folhas secas
meus pés desvendam
histórias antigas

O som do sino
atravessa a noite
e a minha alma

Olhar de promessa
em promessa ficou,
adeus sem gestos

Onde estão os pássaros
que cantavam
tua chegada?

Sem te ver senti
teus passos teu cheiro
surgiste vertical

Olhos gastos de chorar
ainda esperam
sem esperar

No seu coxim
aguarda o amado
tocando bandolim

Com gestos de amor
a bailarina
equilibra a dor

Mergulhei nesse olhar
sem pressa nem medo
de me entregar

Doces palavras
só por ela ouvidas
chegam pelo fio

Com rosas de dor
fez a coroa de adeus
para seu amor

Cabeça inclinada
recebe carinhos
da mão amada

De olhos baixos
Catarina espera,
está, não pensa

Uma flor na casa
é a lembrança
da tua presença

Suave sorriso
pensamento ausente
esperas o dia

Ao entardecer
sonhando acordada,
bela sem querer

Envoltas em cor
passam e deixam no ar
cheiro a canela

Rosa, Dália
doces nomes de mulher
ternas, eternas

Olhos chorando
e de coração partido
segue em frente

Tocaram as mãos
sem saber nem por querer
– o tempo parou

Com um gemido
presa do prazer sentido
adormeceu

Por um segundo
cruzaram seus olhares
e se perderam

Braços em haste
fogo nos pés ligeiros
– sangue andaluz

Teu corpo enluarado
é minha estrada,
meu passeio

Luar na praia
em noites de Agosto
beijos nas ondas

Olhar suspenso
lábios entreabertos
– esperas

Serpenteando
pelo jardim florido
seguem mãos dadas

A carta na mão,
no medo de a ler
apenas suspiros

Entre as árvores
surgiste de súbito
envolto em luz

Como amantes
trocam juras de amor
entre as folhas

Passas no jardim,
cabeças de hortense
seguem teus passos

Ao sol sentada
do livro esquecida
guardo teu beijo



HAICAIS
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