Haicais da flora

No parque vazio
duas árvores se abraçam
em prantos de chuva

Saltando da mesa
a túlipa
foi passear

Flores na árvore
esperam de branco
surgir o fruto

Sob o varal
a cerejeira prepara
o amanhecer

Neblina densa
entre as árvores
senti minhas raízes

Malmequeres amarelos
são malcheirosos
mas belos

Deitou dois crisântemos
ao rio e despediu-se
de si

Árvore velha
tuas raízes-dedos
entram na terra

Suspensas do galho
as folhas
agarram-se à árvore

A rosa rubra
no calor escaldante
toda se abriu

Lá na varanda
uma árvore dança
com sua sombra

No jardim, as fadas
deixaram mil pérolas
de orvalho

Meninas papoilas
bailam graciosas
numa perna só

Pétalas cor de sangue
em redor do gineceu
dão as mãos

Papoilas vermelhas
nos campos de trigo
são canções ao sol

Nos chapéus negros
as ceifeiras trazem
papoilas rubras

Estrelícias no jardim
parecem pássaros
emplumados

Cachos de uvas
pendentes da parreira
roxas, maduras

No mesmo galho
duas romãs gémeas
contam seus rubis

Entre a folhagem
duas romãs conversam
inclinando as coroas

No tronco cortado
existem caminhos
veios sagrados

Na magnólia
em enlace vegetal
a hera sobe

Lírios brancos
lembram borboletas
pousadas nos campos

O vento leva
a leve semente
de uma só asa

Mãos de trabalho
tocam delicadas
os frutos maduros

A cerejeira
repleta de flores
atrai abelhas

Braços cobertos de flores
a árvore
saúda a terra

Ao nosso redor
sinfonia de verdes
- amor à vida

Pendentes do ramo
flores amarelas
resplendem ao Sol

Silenciosa
a seiva percorre
troncos enrugados

As damas da noite
soltam seus perfumes
de mil cores

A grande rocha
no meio do campo
parece dormir

Árvores dançam
de mil verdes vestidas
e braços aos céus

Na velha rocha
musgos e fundos
fazem seus mundos

Como sentinela
a árvore olha
o horizonte



HAICAIS
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