Haicais das águas
Na noite sem lua
o mar todo negro
se oferece em espuma
Praia deserta
no rebentar da onda
a moça espera
Na noite escura
um mar de espuma
chama pela lua
Mar infinito
três vezes bendito
traz meu filho...
Mar de tormento
mar de sustento
– ai, triste sina
Negro, revolto
mar de inverno
pressagia desgosto
O rio ao lado da estrada
corre
ri à gargalhada
No rio, a canoa
pinta em verde
o seu reflexo
No embalo do rio
ao sabor da corrente
meu amor vai comigo
A chuva no charco
traça círculos
sem compasso
Chuva oblíqua cai na rua
as pedras brilham
e cantam
O Sol mergulha vermelho
e lento
o mar soluça
Junco curvado sobre o rio
verde saudade
por quem partiu
De mãos em concha
bebi a água
que jogava das pedras
Chove na mata
o sapo
baba e coaxa
Na praia a sereia
anseia a onda
que a salve da areia
A folha no rio
segue cega
alheia a margens
Olhos a brilhar
nas mãos pequeninas
trazias-me o mar
Escuras nuvens
envolvem a serra
capote de chuva
A água do rio
passa e abraça
os pilares da ponte
O sino badala,
abafa a água
no chafariz
A onda ergueu-se
majestosa
a gemer espuma
O lago ondula
em círculos,
um peixe salta no ar
O mar brinca na areia
e o vento
tem gosto a sal
Cheiro a mato
cores fortes e o som
do mar ao longe
O monte desce
e mergulha no mar
em espuma
As lavadeiras
lavam, riem, batem
a roupa no rio
Telúricos xistos
abruptos, agudos
esperam o mar
O granizo
tornou-se fino, leve
– chegou a neve
A estrela de neve
pousou branda
na luva vermelha
Sobre o lago
a ponte de madeira
une as margens
Num acto de amor
o sol beija o mar
antes de deitar
No balanço da onda
a folha segue seca
e só
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