Doce recordar
No dia em que casei
toda eu era sorrisos
laranjeira e tafetás
renda-pérola vestida
a casa cheia de flores
correrias e amigos.
Minha Tia me chamava
e baixinho assim dizia
– Quem se casa, assim não ri.
– Mas porquê, se sou feliz?
– Guarda isso só para ti.
– Não posso parar de sorrir,
o dia é lindo. É o meu dia!
– Mas uma Noiva não ri.
– Porquê, porquê, minha Tia?
– Deve temer e estar triste,
porque deixa Pai e Mãe,
vai começar nova vida.
– É por isso que me rio,
vai ser nova a minha vida.
– Não sabes como ela será.
– Será minha! A Minha Vida.
por isso canto e sorrio.
– Quem muito ri, mais chorará.
– Pois quem viver, logo verá.
– Mas faz como te digo:
guarda esse sorriso
guarda-o bem só para ti.
– Porquê, porquê minha Tia,
esconder minha alegria?
– Menina, que vão pensar?
assim não é decente,
pode mesmo dar azar.
– E eu com isso ralada.
Quero rir, quero bailar,
pintar no céu arco-íris,
o Sol e a Lua beijar.
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