A outra avó
Minha avó chamada Elvira
tinha sapatinhos de ouro
pendurados nas orelhas.
Era pequena, encolhida
falava pouco, sem gestos
olhava-me fixa e fria
como se ali não estivera.
Uma avó não é assim....
sem histórias pra contar
sem haver ralhos ou risos,
pensava então para mim.
E mantinha-me distante
também eu me calava
pequena e encolhida
observando a velha
e seus olhos de cágado.
A casa dela já na escada
cheirava a peixe frito
e as janelas fechadas
o soalho que rangia
as cadeiras alinhadas
à volta da mesa vazia...
Tudo era penumbra
e o medo de me mover,
mas não parava de olhar
os sapatinhos de ouro
que balançando de leve
lhe pendiam nas orelhas.
Acho que assim aprendi
a hisórias inventar:
– Esta minha avó Elvira
era uma tartaruga velha
que comera uma princesa
que dançava pelos campos,
só lhe deixando de fora
seus pézinhos dourados
que teimavam balançando
das orelhas pendurados.
|